sábado, março 03, 2007

Cap. XVI - O Circo

Ele estava com 17 anos e seguindo a atividade do pai. De tantas atividades, manteve a tradição do trapézio. E não sentia medo nenhum de se aventurar nas alturas. O circo era a sua família, e de fato era (muito mais do que você poderia imaginar).
Nem tudo é o que parece, e aquele circo era muito mais do que se via.
Um mês em cada cidade, quase 50 apresentações, e ninguém se sentia desgastado. Ainda tinha as reuniões, mas estas não estavam marcadas na placa grande que era colocada na frente da bilheteria.
Entretanto, um dia ele subiu no trapézio e ela estava lá. Muito bonita, acompanhada de um homem mais velho que ele imaginava ser seu pai, e usava um chapéu lilás. Ela não saiu da sua cabeça desde então.

A nossa história começa mesmo no momento mais estranho porém mais sublime de sua vida.

Ele abriu os olhos, muito tonto ainda, conseguiu ouvir o barulho das pessoas à sua volta, seus pais chorando, muito preocupados. Mas, ao abrir os olhos, ele a viu. Não sabia ao certo se era ela ou a imagem de um anjo. Os belos olhos azuis dela olhavam preocupados para ele (ela tem olhos azuis...não dava para ver lá de cima).
- Não se mexa...meu pai é médico. Ele disse que vai ficar tudo bem, você apenas quebrou uma perna.
Tudo o que ele lembrava era de que, ao pular, havia escorregado. A rede de segurança, apesar de amortecer a sua queda, rasgou, e ele caiu.
Ela tinha uma voz doce, cabelos negros como o céu à noite e olhos azuis como o céu de dia.
O pai dela havia voltado com um pedaço de madeira e alguns panos.
- Pai, ele acordou!
- Que bom! Vou fazer uma tala nesta perna...
O homem que havia ido com ela era realmente o pai. Viu de quem ela havia puxado os olhos azuis.
- Garoto, você escapou de uma situação complicada. Deus está com você.
Poucas vezes ele via alguém que não era do circo falar em Deus. Será que eles também eram cristãos? Aquele país era tão inseguro para um cristão. Na verdade, era inseguro para todos que não professassem a religião do Estado.
Os amigos do Circo começaram se aproximar e, chegando perto dele, começaram a orar. Um deles, disse baixinho:
- A sua perna vai sarar.
Eles sabiam muito bem que depois daquela demonstração pública da sua fé, teriam de fugir da cidade no mesmo dia, mas não desistiram.
Para o espanto dele, a menina do chapéu lilás também se juntou aos seus amigos, orando.
Foi quando Deus fez algo incrível ali e a perna dele foi curada.
Mas o que ninguém poderia imaginar é que, naquele momento, o que Deus havia curado era muito mais do que uma perna, mas muitos corações.
Os espectadores que havia permanecido ali começaram se aproximar para ver. Muitos deles, vendo a cura, começaram a louvar, pedindo para também seguirem esse Deus.

Como você pode imaginar, esta história não acabou assim. O circo não parou. Ia às cidades apoiando os cristãos e fazendo apresentações. Mas sempre lembravam de voltar àquela cidade.
O trapezista leva este dia no coração. Hoje, ele lembra da sua esposa e recorda do dia em que a viu na platéia, usando um chapéu lilás.